Mensagem do Presidente

Colheita Ceifeiras

Museu Nacional de Soares dos Reis - Colheita - Ceifeiras; Silva Porto; 1893; óleo sobre tela; 5 Pin CMP (DHL)/ MNSR; Imagem - Arnaldo Soares, © DGPC

Ela Canta, Pobre Ceifeira

Ela canta, pobre ceifeira, 
Julgando-se feliz talvez; 
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia 
De alegre e anônima viuvez,

Ondula como um canto de ave 
No ar limpo como um limiar, 
E há curvas no enredo suave 
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece, 
Na sua voz há o campo e a lida, 
E canta como se tivesse 
Mais razões pra cantar que a vida.

 

Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu! 
Ter a tua alegre inconsciência, 
E a consciência disso! Ó céu! 
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve! 
Entrai por mim dentro! 
Tornai Minha alma a vossa sombra leve! 
Depois, levando-me, passai!

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Ao relermos este texto belo de Pessoa, lembramos o esforço, a dedicação e a alegria de tantos e tantas que se dedicam ao trabalho com a terceira idade.
Queremos, à semelhança da ceifeira, na dureza do desempenho, que os nossos trabalhadores sintam essa alegria e entusiasmo de cantar “como se tivesse/ Mais razões pra cantar que a vida”.
Também para os nossos Utentes que se identificam com este modo de viver, seja agora o momento de viverem essa alegria e paz que saem da alma da ceifeira.

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